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Sono ruim vai muito além do cansaço diurno e pode levar à perda de memória

A pandemia de Covid-19 já dura mais de um ano e segue afetando diversas atividades cotidianas. Um dos exemplos mais claros é o sono, fortemente prejudicado pela mudança na rotina e pelo estresse que deriva de várias fontes: preocupação com a própria saúde e de familiares, desemprego e falta de perspectivas para o retorno às atividades “normais”. No Dia Mundial do Sono, lembrado em 19 de março, países em todo o mundo chamam a atenção para o fato de que as pessoas reduziram – e muito – a qualidade de seu sono, e isso deverá ter efeitos mesmo após a pandemia passar.

“O sono é influenciado por diversos fatores, e o retorno a um sono de qualidade poderá demorar a acontecer, principalmente quando não for associado a diagnóstico e tratamento específico”, avalia Nilson André Maeda, otorrinolaringologista especialista em Medicina do Sono do Hospital Paulista.

Pesquisas recentes indicam que o número de pessoas com insônia no Reino Unido aumentou de uma em seis para uma em quatro durante a pandemia. Na Grécia, o problema foi relatado por 40% dos entrevistados, enquanto na China a taxa de insônia subiu de 14% para 20% durante o isolamento social.

“Confinadas, as pessoas perderam diversos referenciais e o período de sono foi um dos primeiros a serem afetados. A rotina de trabalho remoto, associada aos cuidados com a casa, por exemplo, fizeram com que o horário tradicional de dormir e acordar fossem severamente modificados, gerando problemas como irritabilidade e sonolência durante o dia”, completa o médico, responsável pelo Ambulatório de Medicina do Sono do Hospital Paulista, que atua no diagnóstico e no tratamento de problemas relacionados ao tema.

 

Apneia e memória

Apesar de ser muitas vezes negligenciado pelas pessoas, o sono de má qualidade influencia na ocorrência de doenças mais graves ao longo da vida. Pesquisa realizada pela Universidade da Califórnia, em Los Angeles, nos Estados Unidos, por exemplo, indicou que pessoas com apneia obstrutiva do sono sofrem perda de tecido em regiões do cérebro que auxiliam no armazenamento da memória. O estudo foi publicado na revista Neuroscience Letters.

Neste tipo de apneia, a respiração é obstruída por diversas vezes durante o sono. Trata-se de um problema que, muitas vezes, só é identificado através da avaliação de um especialista e de exames específicos, já que o próprio paciente pode ter dificuldade para notar o quadro.

“Na apneia obstrutiva do sono, a via respiratória alta é bloqueada, interrompendo a respiração e reduzindo a oxigenação, de maneira intermitente. Muitas vezes, quem nos auxilia no diagnóstico é quem compartilha a cama com o paciente, além do exame de polissonografia. Geralmente, a história é de ronco alto, sonolência diurna e queixa de um sono não reparador. O tratamento pode ser clínico, cirúrgico ou a associação dos dois, após uma avaliação individualizada de cada paciente”, afirma o otorrinolaringologista.

O estudo demonstrou que a dificuldade em respirar durante o sono pode levar a danos cerebrais e prejuízos para a memória e raciocínio.

 

Muito mais que cansaço

A crença de que noites mal dormidas geram “apenas” dias cansativos é falsa, portanto. Não bastasse a sonolência durante o período diurno, o sono de má qualidade tem a capacidade de deixar os indivíduos mais irritados, dispersos, esquecidos, improdutivos enquanto estão acordados e até perigosos, caso estejam dirigindo um automóvel.

“Além disso, diversos problemas de sono, como o ronco, deterioram a qualidade de vida também de companheiros e companheiras que convivem com os pacientes. Em um período de confinamento e grande estresse, esse tipo de conflito pode gerar grandes danos a relacionamentos e à própria saúde emocional de famílias inteiras. É extremamente importante respirarmos bem durante o sono, sem obstrução nasal ou faríngea”, afirma o médico, ressaltando a importância do tratamento.

“O diagnóstico e o tratamento médico adequados permitem reduzir e, em alguns casos, eliminar problemas de sono responsáveis por deteriorar a qualidade de vida das pessoas. São distúrbios que não devem ser ‘deixados para depois’. É preciso e aconselhável buscar auxílio médico. E lembrando que, em tempos de necessidade de uma boa imunidade, é fundamental termos a quantidade e a qualidade de sono adequadas”, finaliza.

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