Apraxia de fala na infância (AFI): o que é e como tratar condição neurológica que atinge duas a cada mil crianças no Brasil
Apesar de não ter cura, especialista sugere tratamento multidisciplinar para garantir progresso na comunicação dos pequenos
A dificuldade para articular sons e formar palavras pode ter diversas origens. Uma delas é a Apraxia de Fala na Infância (AFI). De acordo com Associação Brasileira de Apraxia (ABRAPRAXIA), a condição, que afeta duas a cada mil crianças no país, é um tipo de transtorno neurológico que influencia na habilidade para sequencializar os movimentos necessários para a produção dos sons da fala.
De forma mais clara, a criança diagnosticada com AFI tem ideia do que quer comunicar, mas seu cérebro falha ao planejar os movimentos articulatórios necessários para a produção da fala, como o da mandíbula, dos lábios e da língua. Isso dificulta a pronúncia de sons, sílabas e palavras corretamente.
“No consultório chegam desde crianças que não falam, até aquelas com fala ininteligível em grau variável. Isso acontece por causa de erros na hora de formar sílabas e palavras, que podem aparecer tanto nas consoantes quanto nas vogais. Muitas vezes, elas têm dificuldade para fazer a transição entre os sons, o que deixa a fala com uma entonação estranha e sem o ritmo natural. Os erros costumam ser imprevisíveis, o que também atrapalha a comunicação”, afirma Dr. Gilberto Ferlin, otorrinolaringologista e foniatra do Hospital Paulista.
O especialista alerta também que esses pacientes apresentam, com certa frequência, sinais de ansiedade ao tentar se comunicar e, podem também demonstrar frustração. Além disso, frequentemente fazem uso de gestos ou expressões faciais para complementar suas emissões ou mesmo substituir a fala.
O diagnóstico da apraxia é clínico e deve ser realizado com o suporte de uma equipe multidisciplinar, incluindo fonoaudiólogos e otorrinolaringologista com formação em foniatria. Além da avaliação clínica, podem ser solicitados exames laboratoriais, eletrofisiológicos e de imagem, para descartar outras possíveis causas anatômicas ou neuromusculares que possam comprometer a fala.
O tratamento é feito por meio de sessões de fonoaudiologia individualizadas, com foco na melhora da coordenação motora da fala e da inteligibilidade verbal. São tratamentos individualizados para as necessidades de cada paciente de acordo com os prejuízos associados encontrados. Há alguns métodos específicos que podem ser utilizados, mas devem ser adaptados para cada caso, podendo ser usados recursos de vários métodos em um mesmo paciente. Entre os métodos mais utilizados estão o PROMPT (estímulo tátil para articulação); o DTTC (Dynamic Temporal and Tactile Cueing) e o ReST (Rapid Syllable Transition Treatment). Em alguns casos, o acompanhamento pode incluir também terapeutas ocupacionais e psicólogos.
“Esses métodos basicamente consistem em estímulos sensoriais, prática e planejamento. Ou seja, o terapeuta estimula a criança a reproduzir sons de sílabas individuais, até que avance para palavras, frases e conversas. Além disso, pode usar pistas visuais, táteis e auditivas para auxiliar no planejamento da fala. E, ainda ajuda a criança a criar estratégias, como usar imagens, objetos ou dicas verbais”, explica Dr. Gilberto.
O tratamento multidisciplinar é essencial para que haja uma melhora considerável na capacidade de fala. “Importante destacar que a condição é muito individual e possui graus. Dessa forma, cada criança pode apresentar um nível de desenvolvimento diferente”, ressalta Ferlin.
A evolução do quadro varia de acordo com diversos fatores, como a causa subjacente que deve ser sempre investigada (neurológica, genética ou metabólica), a gravidade do distúrbio, o tipo de abordagem terapêutica adotada e o apoio recebido pela criança em casa e no ambiente escolar.
“A participação ativa dos pais e da escola é essencial para o tratamento. Principalmente porque a terapia requer muito reforço e prática de exercícios específicos para a fala. Quanto mais dedicados os envolvidos estiverem, melhor pode ser o progresso da criança”, aponta o especialista.
O médico reforça, ainda, que o diagnóstico, o planejamento terapêutico e início das intervenções precoces são fundamentais para um prognóstico mais favorável. Além disso, contribuem para reduzir o impacto do distúrbio no desenvolvimento da linguagem e na comunicação da criança, evitando comportamentos como ansiedade, timidez e isolamento social. “Quanto mais cedo a intervenção ocorrer, melhores são as chances de evolução”, finaliza.
Sobre o Hospital Paulista de Otorrinolaringologia
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